Analise
do Primo Basílio
Intersemiose:
Literatura x Cinema
Martielly Paula
Cavalcanti Santos¹
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo expor
algumas relações entre cinema e literatura abrangendo especialmente a adaptação
fílmica. A transcrição da obra
escrita para uma audiovisual, já ocorre a um certo tempo, no entanto depois de
vários estudos essa transcrição vem envolvendo a intertextualidade, a
Intersemiose, uma linguagem audiovisual mais intensa. Diante desses estudos
percebemos que para haver uma adaptação não é necessária fidelidade total à
obra original. Pode apenas ser uma inspiração, um intertexto ou um trabalho
baseado nela.
Palavras-Chaves:
Literatura; Cinema; Intersemiose; Intertexto; Adaptação
Introdução
O presente trabalho objetiva uma
análise sobre a Intersemiose entre a obra de Eça de Queiroz, intitulada como o
Primo Basílio à uma transposição fílmica/ audiovisual, a adaptação para o
cinema foi realizada por Daniel Filho, a obra tem o mesmo titulo da obra
literária.
Tomando
com ferramentas indispensáveis a intertextualidade, a Intersemiose e o
intertexto, a transcodificação não segue rigorosamente todos os critérios da
obra escrita. Apenas destaca os valores mais importantes na visão do autor.
A Intersemiose é tida como a
transcodificação da linguagem literária para a linguagem fílmica, envolvendo a
intertextualidade, já mencionada á cima.
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¹Graduanda
em Letras V Período pela – Universidade de Pernambuco (UPE). Artigo Cientifico requerido à Aluna Martielly
Paula Cavalcanti para o processo avaliativo da cadeira “Literatura Portuguesa
II” Professora Doutora Amara Cristina Botelho.
Intersemiose:
Literatura X Cinema
O texto literário desde muito tempo vem
sendo transcrito para obras audiovisuais/cinema, sendo assim feita a
Intersemiose, no entanto antes os estudos eram pela transformação da literatura
para os cinemas de forma fiel, hoje houve mudanças e a preocupação agora é
transcodificar as obras literárias para a audiovisual, ou seja, para uma outra
linguagem.
“... a literatura realiza ‘imagens mentais’, o cinema materializa
em imagens e sons (ou silêncio) o que foi organizado no roteiro e na percepção
do diretor, ou da produção. as discussões difíceis e sem fim sobre a validade e
a adequação das adaptações de livros para o cinema levam a uma oposição do tipo
literatura x cinema, que dão a falsa idéia de que a literatura possa ser
substituída pelo cinema ou vice-versa. ...”
Sendo assim podemos dizer que literatura instiga
o leitor a produzir as imagens mentalmente, enquanto o cinema entrega pronto ao
leitor/telespectador sem que o mesmo possa usar a imaginação para criar o
ambiente e os personagens descritos nos livros.
O leitor já recebe as imagens descritas da
forma como o diretor acha que aconteceu, assim sendo, o leitor/ telespectador
também poderá discordar ou não da obra transcrita para o cinema, se o mesmo já
conhecer a obra em questão.
Dessa forma a intenção muitas vezes é
deixar fixado no subconsciente do leitor que o cinema pode substituir a
literatura como obra escrita em uma obra fílmica, desconsiderando que as obras
fílmicas não são totalmente rigorosas, quanto ao tempo em que a obra foi
escrita, ás roupas da época e seus costumes, pois a Intersemiose quando é
feita, permite que o transcodificador não siga todas as cenas rigidamente.
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² A
Intersemiose é tida como a transcodificação da linguagem literária para a
linguagem fílmica, envolvendo a intertextualidade, o intertexto.
“...através
da Intersemiose, cruzam-se “outras linguagens, outros códigos, outros recursos,
outros meios” . ...”
Ou seja, a Intersemiose possibilita o uso
de dois ou mais textos expostos em vários meios e línguas para fazer a relação
entre eles. Foi o que aconteceu na relação entre Literatura X Cinema com base
no Primo Basílio, da obra literária para a obra audiovisual.
O qual foi transcrito ressaltando apenas os
fatos mais relevantes dentro da sociedade burguesa do século XIX, os costumes e
a cultura da sociedade, o romance foi publicado em 1878 por Eça de Queiroz e
transcrito por Daniel Filho em uma obra fílmica com o mesmo titulo da obra. As personagens de O
Primo Basílio podem ser
consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade
daquela sociedade.
“...Mais abrangente
que a linguística, a qual se restringe
ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem
verbal, esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico - Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião,Ciência, etc. ...”
Por ser mais abrangente que a linguística a
Semiose pode estudar qualquer sistema sígnico, seja ele música pintura, cinema,
cultura, entre outras, fazendo assim a Intersemiose entre eles, para ao cesso
mais fácil e pratico, no entanto isso não significa a (Re)reprodução fiel da
obra original.
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³ A Semiótica (do grego σημειωτικός (sēmeiōtikos) literalmente "a ótica dos
sinais"), é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem
sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ambos os termos são
derivados da palavra grega σημεῖον (sēmeion), que significa "signo",
havendo, desde a antiguidade, uma disciplina médica chamada de
"semiologia".
Análise: Literária X Cinema
Tendo em vista a analise realizada, podemos
inferir que ao fazer a transposição de uma obra literária pra uma obra fílmica
é impossível manter a linguagem usada na literária para a audiovisual, uma vez
que, o público da audiovisual varia
desde o mais simples de linguagem ate os mais cultos na norma padrão.
Nessa visão, poderemos observar que Daniel
filho no seu filme inicia no teatro, costume corriqueiro da época do romance,
ressaltando dessa forma a importância de se frequentar um teatro naqueles
tempos, diferente da obra de Eça que inicia seu romance em uma sala, onde Jorge
ler e Luiza, sua esposa, o faz companhia.
A trama no filme se desenvolve ressaltando,
como objetiva Daniel filho, os pontos mais importantes daquela época, d e uma
sociedade burguesa do século XIX, exibindo um típico casal burguês, ele um
funcionário de ministério e ela uma moça sonhadora e romântica, ambos de classe
média.
Nessa obra de transcrição podemos perceber
a presença da ordem cronológica e psicológica em ambas as obras, No entanto na
obra fílmica ocorre o tempo do escritor, nesse tempo ele pode ressaltar cenas
mais importantes, como já foi mencionado à cima, de acordo com o tempo no qual
ele escreve ou retrata no filme.
O espaço da obra audiovisual é preservado e
segue de acordo com o romance, No entanto as roupas da época obedecem ao tempo
do escritor. Durante o decorrer da narrativa Luiza comete o erro da traição e
passa a viver angústias, medos e a ter lembranças dos fatos ocorridos, a isso
podemos chamar de analépse, onde vai
predominar nessas cenas o tempo psicológico.
Quando observamos o tempo no qual a
historia ocorre, percebemos a isocronia,
em se comparando a literatura, pois, o tempo da narrativa é obedecido na
fílmica embora, existam cenas que são reduzidas e a essa redução de
acontecimentos cronológicos dá-se o nome de anisocronia,
pois existem cenas e falas na narrativa que não acontece na fílmica.
Sendo assim, além da redução de cenas de
capítulos temos também a redução de fatos/cenas dentro de um mesmo tempo e a
essa redução chamamos de elipse. Um exemplo disse é a cena onde Luiza trai seu
marido e Juliana (a empregada responsável pelo desentendimento do casal)
encontra na cena da traição (na narrativa) um broche de Luiza caído no chão, e
no filme ela encontra apenas uma calcinha e resto de charutos no cinzeiro.
Toda essa narrativa romântica é contada
pelo autor classificado como, narrador oculto, o qual pode narrar e controlar
toda a história e um narrador onisciente pois ele sabe os detalhes da trama entes
do leitor.
O Romance pode ser considerado realista,
pois ele preserva e destaca valores da época na qual a história foi contada e
pode ser considerado também um pouco detalhista pois na obra fílmica os
detalhes giram em torno dos valores
ressaltados pelo diretor, no entanto existem detalhes que ele não pode
desconsiderar como detalhes de cultura, teatro, reuniões familiares, política e
cultura, exemplo da cultura preservada na fílmica: Ter duas empregadas, uma
para serviços de cozinha e outra para serviços domésticos, de dentro da casa, a
essas consideradas de confiança, no caso
Juliana.
REFERÊNCIAS
QUEIRÓS, Eça de O Primo Basílio. Porto-Braga, Livraria
Internacional de Ernesto Chardron, 1878.
Publicado por Martielly Paula Cavalcanti em 21/03/2012 às 23:53hs.